Cigarro. Ô droguinha miserável e repugnante, não? Não tem coisa pior que o cigarro. O problema é do cigarro, não de quem fuma o cigarro. Quem fuma o bendito são vítimas dele. Sofredores e súditos desse terrível hábito. Vai fazer o quê? Se matar? Pra quê? Já tá se matando mesmo. E o pior é que sabe disso e finge que não sabe. Entre uma baforada e outra ignora a real possibilidade de estar desenvolvendo um câncer ou qualquer outra coisa que o valha. O mais engraçado é que a pessoa dominada por ela acha que é o senhor dos anés. Fica soltando aneizinhos de fumaça por todos os lados, em todo o lugar, e o que é pior, na cara dos outros. Se achando. Aí chega alguém e diz: Você não tem respeito, não? Seu fedorento! Na maioria das vezes, nós os fumantes, ouvimos isso com os olhos, as pessoas nem chegam a dizer e a gente já escuta. Sarcasticamente e um tando convencido, respondi certa vez, quando ainda fumava: Respeito? Quem fuma não respeita nem a si mesmo por fumar, quem diria aos outros. Rá-rá. Profundo não? Essa resposta bateu mais forte em mim do que na pessoa a quem respondi. A única coisa que bateu nela foi o bafo, mais nada. Mas em mim bateu tão fundo que até tossi. Tudo bem, tudo bem. Nada que um susto não resolva, Deus me livre. Bati na madeira três vezes isolando qualquer possibilidade de algo desagradável acontecer. Porque de desagradável, basta o cigarro, né? Mas cá entre nós. Existe uma droga muito pior que a do cigarro e que todo mundo usa e nem se quer sabe ou admite que usa: a fofoca.Ou as más línguas ou chame do que você quiser, mas que você é um usuário em potencial, isso é. Basta uma mesinha e duas pessoas e pronto. Entre um assunto desinteressante e outro, um dos dois consegue falar mal de alguém. Muitas vezes até disputam inconscientemente quem vai começar primeiro . As vezes demora um pouco para que o melhor assunto - a fofoca - entre em pauta. Do contrário já se nota os primeiros sinais de abstinência. O sujeito começa a se mexer na cadeira, a suar, a balançar as pernas, toma um gole do chopp e olha para um lado, para o outro, chega até a ignorar a morena da mesa ao lado lançando olhares para ele. Tão grande seu vício. Aí ele alcança o extremo da falta da droga e, quase num tom gritado diz: Puta que pariu!!! Que bosta de chopp! Será que não tem nenhum imbecil de um garçom nessa budéga? Fala sério Arnaldo. Parece aquela velha megera do escritório… Pronto, conseguiu, é como se a droga tivesse tomado conta de todo o seu corpo. Ele já se sente mais relaxado. O chopp já está uma delícia e até dá uma gorjetinha para o graçom e o chama de “meu camarada”. Seu amigo, ou quem estiver na mesa já instintivamente, para o que está fazendo e vira-se para o traficante, que distribui a droga e todos começam a consumi-la. Todos na mesa estão viajando. Muito louca a deliciosa droga das más línguas, ou da fofoca, ou do que você quiser chamar. Todo mundo já usou esta droga ou pelo menos experimentou. Eu mesmo já usei. Vira e mexe me pego dando uns tapinhas. Mas quando me dou conta já estou completamente envolvido pelo veneno. Mas se você é usuário e pretende largar esse vício ou simplismente fazer uma espécie de desintoxicação temporária, existe uma única saída:
1)Dirija-se ao seu chefe e, preste muita atenção nos seus pensamento, normalmente eles vão estar liberando a droga com idéias do tipo: “Não acredito que vou ter que ver logo cedo a cara desse imbecil do meu chefe”. Mas fique firme e, no caminho pense em coisas leves como a minisaia da estagiária, por exemplo. Chegando na sala do chefe, bata delicadamente três vezes na porta e com um largo sorriso, agradeça o tempo de trabalho e peça umas férias.
2)Faça uma mala bem grande, coloque no carro, escreva uma carta para os familiares dizendo que os ama muito e que ficará fora durante uns anos. Não esqueça das amantes.
3)Pare na primeira banca de jornal, compre um “Guia Montanhas Rochosas do Himalaia” ou Atalaia, sei lá, e siga em frente sem olhar para trás. Sem pensar em nada. Uma boa dica é fazer durante toda a viagem o mantra do indiozinho. Anote aí: “Um, dois, três indiozinhos. Quatro, cinco, seis indiozinhos. Sete, oito, nove indiozinhos. Todos no mesmo bote”. Sua cabeça vai querer encontrar alguma maneira de culpar ou falar mal de um dos indiozinhos por ter virado o bote ou coisa parecida. Mas não dê ouvidos. Se isso acontecer cante a dos “Sete Anões”, que não me lembro agora.
4)Chegando no pico da montanha mais alta que você encontrar, sua massa cinzenta vai virar uma pasta e depois uma rocha acinzentada. Fique aí o tempo que for necessário, até o momento em que seu corpo se encontrar totalmente adormecido pelo frio. Após este momento, seu cérebro já vai estar congelado e você vai entrar numa espécie de transe.
5)Pronto, você está curado para o resto da vida.
Nunca mais vai falar mal de ninguém. Não que não venham a falar mal de você. Até porque, a frequência de pessoas falando mal de você vai dimuniundo de acordo com o tempo de sua ausência. Em média, dura dois anos e meio ou mais até as pessoas esquecerem o inútil que você foi. Ou que pelo menos elas achavam que você era. Abro um parênteses: no caso dos casados, a frequência das pessoas falando mal de você, no caso sua mulher, pode durar a vida inteira ou até outras. Fecho o parênteses.
Conclusão: é incalculavelmente mais fácil largar de fumar do que deixar de falar mal dos outros. Eu? Parei de fumar.
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