domingo, 5 de setembro de 2010

Tomara

Quando a gente fica muito tempo sem alguém por opção, a gente se acostuma com uma certa paz que existe quando se está sozinho. Que é importante pra gente conhecer um pouco mais sobre a gente. Mas quando se fica sozinho por medo, a gente também aprende muita coisa sobre a gente, mas aprende mais ainda sobre o medo. E ele é fogo. Vai queimando aquelas vontades que a gente tem de dividir um carinho, de olhar alguém mais profundamente nos olhos, de pegar na mão, de dizer coisas que vem lá de dentro da gente. Esse medo funciona como um algo que analisa o que o nosso coração solta despreocupado apenas por sentir, e mete o fogo do parecer bobo ou inadequado encima. O amor nunca é inadequado. Sentir uma vontade gigante de dividir um algo com alguém e não ter coragem de fazê-lo é que é. E quando a gente liga esse troço, a gente liga a mediocridade junto. E liga mais um monte de coisa boba. Como a falsa auto-suficiência. Um sentimento que faz a gente se achar completo. Até existem caras assim. Que se bastam. Mas são poucos, caras longe das nossas imperfeições e carências emocionais. Porque cá entre nós, é bom pra cacete sentir o encaixe da outra pessoa na gente. Que quando você abraça é como se estivesse se abraçando. Sentindo o fluxo de energia que você põe naquilo voltando igualzinho pra você. Perceber a lei da ação e reação no amor é bom demais. Aí assusta mesmo, ué. Lógico, vem o trocinho do medo e diz o seguinte: “Opa, opa, isso aí é bom demais meu camarada. Segura essa onda aí que você não vai dar conta. Gostou e quando ficar sem vai doer”. Pois é, a gente nem assimilou o efeito do carinho da outra pessoa e já vem a porra do medo avisando a gente da falta dele. Ou seja, é medíocre. É como as pessoas que não querem ganhar na sena pela possibilidade de torrar tudo e ficar sem nada. Olha que merda. Mas tomara que a gente encontre um alguém que tenha um estoque de amor tão grande que não admita um recipiente pequeno pra depositar. E tomara que esse alguém perceba que você quer viver um grande amor, sim, mas que ainda tem esse troço ligado aí dentro de você a tanto tempo que apenas se esqueceu de onde fica o botãozinho pra desligar. E que ela esteja disposta a enfiar a mão bem lá no fundo das suas melecas emocionais pra te ajudar a encontrar esse botão. Juntos. Tomara.

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