terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O caminho de volta.

Domingo agora acordo com os passos do meu filho vindo em minha direção na cama e beijando o meu braço. Levanto e, depois de esmaga-lo vou até a cozinha onde encontro meu pai, como de costume, fazendo o almoço. - Bom dia Wirsão... e feliz aniversário!!! Quantos aninhos?! Ele mostra sete dedos e olha com um sorrisinho. Eu respondo com o mesmo sorriso, e numa cumplicidade, digamos espiritual, entramos na mesma sintonia: - Tá véio, heim Wirsão? (risos) ... Não vê a hora de voltar pra casa né, pai? Percebi que o sorrisinho dele aumentou. - Tá na hora. - Merecido. Respondi. – E quem você acha que vai encontrar primeiro? O seu pai, (sei que ele tem muita saudade do pai que se foi quando ele era pequeno) um xamã, ou o seu pai como um xamã? Rimos juntos. E ele: - - Vai saber, isso se ele não reencarnou num desses moleques aí. (se referindo aos netos). - Vai saber, só sei de uma coisa, não some não, viu? Vamos trabalhar juntos. Eu daqui e você de lá. Nessa hora nossos olhares se cruzaram por segundos. E ele disse: - Com certeza. E eu repeti a pergunta: - Não vê a hora de voltar pra casa, né pai? E antes mesmo dele responder eu continuei: - Eu também.

sábado, 13 de julho de 2013

O templo daqui.

Quanto mais eu vejo e visito templos, igrejas, mesquitas e lugares considerados santos, mais eu me convenço de que o verdadeiro templo divino está dentro do meu coração. E é lá dentro, que quietinho e de olhos fechados, consigo ver o brilho real "da luz que brilha mais do que milhões de sois juntos". E essa luz transborda. E o choro é inevitável. E a noite no quarto escuro de um hotel num canto do mundo vira dia. E fica mais claro o que eu leio, o que estudo, o que aprendo, o que pratico e o que amo. Engraçado como tive que vir tão longe pra entender melhor algo que está tão perto. Talvez seja esse mesmo o xis da questão. Ou como o Cara lá em cima brinca com nossa ilusão. Meu peito vai explodir de tanto amor, Cristo. Ou é tanto amor do Cristo que faz explodir o meu coração?

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Ferramenta.

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Em poucos momentos da minha vida estive realmente presente. Presente de verdade. Com a cabeça, os sentidos, o coração, a atenção toda ali no momento. Dificílimo. Mantras, práticas disso, daquilo, meditação, muita meditação e surfe. Pois é, surfe. Quando se está lá no fundo em cima da prancha, sua atenção fica completamente lá. Não sei se é porque a gente se coloca numa posição de espera, até de uma certa tensão misturada com ansiedade, sei lá. Mas é presente, é só ali. Olhando o horizonte, e esperando. Acho que deve até rolar a tal da “harmonia com a natureza” que tanto se fala. Será? Até porque é você ali, e ela. E a grandiosidade dela. Talvez essa grandiosidade e estar de frente com ela, cara a cara com o horizonte do mar, faça com que agente se sinta pequeno mesmo. Aí o silêncio é inevitável. Mas não o silêncio de fora, o de dentro. Você se aquieta, observa, se acalma e espera. O que ela vai te mandar. E o mais engraçado é que tem a sua onda. Pronta, perfeita, com o seu nome escrito nela. E é aí que entra a mágica do negócio. Você não precisa “correr atrás” pra conseguir. Não precisa competir. Não precisa ficar ansioso pensando, será que vem? Será que não vem? É só esperar. Talvez eu tenha descoberto no surfe a espiritualidade que tanto pratico. O estar presente. A entrega. Talvez eu tenha crescido com a ideia de que a gente tem que isso e tem que aquilo pra conseguir as coisas... E quer saber? Tem que nada. Ideia de jerico, isso aí. Tá tudo programado. Explico porque:
Depois de algumas horas surfando, (e do meu ombro “apitando”) pego a última onda e vou pra areia. Satisfação geral. Corpo, mente e espírito. Esse último meio satisfeito. A outra metade veio em seguida. Fico na areia, sentindo o sol e curtindo ainda aquela sensação da presença rolando.  Me sento e fico observando meu amigo ainda no mar esperando a última onda dele, a “saideira”. Olho para os lados e a praia está deserta. Com exceção de um casal a uns 50 metros a minha esquerda que vai andando em direção ao mar. Volto a olhar para o mar e fico lá adivinhando qual vai vir com o nome dele. Ó lá, é ela. Lindona. Ele pega e começa a vir para areia. Nesse instante escuto alguém gritando atrás de mim e vejo um homem de branco gesticulando desesperadamente e apontando para o mar. Olho procurando o casal a minha direita e vejo que eles não estão mais ali no raso, mas lá no meio da arrebentação e pior, se afogando! Meu amigo a essa altura já esta com a prancha na mão andando em minha direção quando saio correndo em direção ao casal gritando para ele: Traz a prancha!! Imediatamente ele percebe o que esta acontecendo e corre comigo em direção ao casal. Nesse momento fico tentando lembrar dos cursinhos rápidos de primeiros socorros que ensinavam na escola ou de algum documentário da Discovery Channel. Aí me lembro de que a pessoa se afogando, pode acabar afogando quem está tentando salva-la. Vou pega-la por trás, pensei. Chego bem perto e bato em um dos braços dela virando-a de costas para mim. Consigo agarra-la e começo a nadar em direção a areia. Só nessa hora percebo o meu amigo pegando o marido dela que estava mais ao fundo. Beleza. Ela estava muito mole, já não aguentava respirar direito. Eu apenas dizia: respire, respire, calma, está acabando. Com uma dificuldade tremenda consigo traze-la até a areia. Estávamos no meio da arrebentação com o mar mexido, buracos na areia e uma correnteza bem forte. A mulher parecia não ter musculatura nenhuma, era como se fosse uma gelatina. Acho que de tão exausta que estava. E nem falava direito, apenas respirava ofegante. Só na areia ela soltou um “thank you” aí percebi a nacionalidade. O caseiro chegou agradecendo a Deus por estarmos ali, ele não sabia nadar. E eu pagradecendo a Deus pelo meu amigo ter saido da água exatamente naquela hora. Eu não conseguiria pegar os dois.
Foi aí que tudo se encaixou na minha cabeça: eu saindo da água, o casal andando em direção ao mar, meu amigo pegando a última onda, o caseiro gritando, o casal no meio da arrebentação e o meu amigo já na areia. Uma sincronicidade incrível. Meu Deus do céu! Me lembrei do outro jeito que Ele é chamado por aí, “O Grande Arquiteto do Universo”. Imagina o tamanho que fiquei perto disso tudo. O grão de areia era um gigante. Já havia escutado, lido, estudado sobre tudo estar sincronizado, que nada é por acaso e tal, mas nunca havia presenciado a parada. Ou prestado atenção nela. Talvez porque naquela hora eu estivesse presente e pude perceber a grandiosidade da vida acontecendo? É bem provável. Quem dera ficar a maior parte do dia nesse estado. Talvez as coisas ficassem mais claras. Mais fáceis. Mais compreensíveis e a gente menos doente e menos distante Dele.
Depois de tudo aquilo, viro para o meu amigo e digo: Hoje não viemos até aqui pra surfar. Viemos salvar aquele casal, cara. Ele concordou com a cabeça.
E todos os dias eu penso: aquele dia não fomos até lá surfar, fomos apenas ferramentas do Grande Arquiteto do Universo. E agradeço.